Olá leitores, como vão??
Vocês sabem o quanto o Escrev'Arte preza e valoriza a literatura nacional. Entendemos que vale a pena conhecer e investir nos nossos autores e autoras. Eles, tanto quanto os grandes mestres literários internacionais, possuem uma riqueza incalculável e podem nos levar a viagens inesquecíveis através das páginas de suas obras! Eu posso garantir que isso é fato. Quem acompanha o Escrev'Arte já teve a oportunidade de conhecer muita coisa de extrema qualidade, criados aqui mesmo, debaixo deste mesmo céu. :D
Pensando nesta característica de nosso blog, vamos publicar periodicamente uma entrevista, nesta coluna intitulada Arte e Cultura. Através das entrevistas, queremos levar até você, leitor, um pouco mais sobre um dos artistas das palavras!
Para começar em grande estilo, entrevistamos Eduardo Alves Costa, autor de Tango, com Violino, lançado no último dia 20, em São Paulo.
A entrevista foi realizada pela nossa resenhista
Rê Souza, e o nosso contato com o autor foi através do
Parceria6 - Assessoria de Comunicação. Vejam só:
Rê: Como surgiu essa nova ideia, Tango com Violino? A partir de que ponto você decidiu pela obra?
Eduardo: A ideia de escrever o romance " Tango, com Violino" surgiu da circunstância de eu ter completado setenta anos (hoje tenho setenta e oito). Embora não esteja aposentado, pois continuo a escrever e a pintar, imaginei como seria a vida de alguns idosos que, de alguma maneira, estivessem unidos por algum tipo de relação. Embora não se trate de uma obra autobiográfica, há muito nela de vivência pessoal e de observação do cotidiano de São Paulo.
A maioria dos romances sobre a terceira idade aborda a velhice como um drama que envolve sofrimento, decadência, doença, depressão, derrota e morte. Procurei evitar esse lugar comum, embora verdadeiro na maioria dos casos. Meus personagens são saudáveis, vivos, atentos e irônicos, embora saibam que se tornaram "invisíveis" para a sociedade, continuam a viver sua vidinha com muita disposição e bom humor.
Este, a meu ver, é o segredo da longevidade e da manutenção da saúde, como, aliás, já ensinavam os taoistas há milhares de anos.
Rê: Vimos que além de contista, dramaturgo e artista plástico, você é poeta. Em Tango com Violino, vamos poder apreciar alguma poesia sua?
Eduardo: Embora o título do romance tenha tomado por empréstimo o título de um poema escrito por mim, o poema é apenas mencionado, pois reproduzi-lo enfraqueceria o desfecho da obra. Os leitores mais atentos se darão conta de que o romance foi escrito por um poeta.
Rê: Como foi o processo do livro desde a premissa até a finalização?
Eduardo: As ideias fluíram sem dificuldade. Há escritores que sofrem ao criar. Eu me diverti muito, pois os personagens adquiriram vida própria e eu me surpreendo com situações inesperadas. Há uma certa magia em ser o criador e o espectador da própria obra.
Rê: Como se sente, vendo sua obra lançada mesmo não sendo a primeira?
Eduardo: É sempre uma nova aventura, emocionante, a expectativa de que o livro siga seu caminho, pois a obra só adquire sentido quando lida.
Rê: Deixe uma mensagem (pode ser poética??) para o Escrev'Arte e seus leitores.
Eduardo: Para os que ficaram curiosos quanto ao poema, de minha autoria, que emprestou seu título ao romance, vou transcrevê-lo aqui:
Solo y triste nesta noite, olho a esmo.
Ergo a alma entre os dedos,
acendo-a e fumo a mim mesmo.
Se eu tivesse uma agenda de endereços
com loiras, mulatas, morenas, podia
deitá-la fora e curtir
em solidão minhas penas.
Felizmente estou só. Meu último amigo
fundiu-se tanto comigo
que se tornou meu umbigo.
A mulher que eu amava
foi muitas vezes à fonte
e retornou inteira
quebre-me eu, num salto sem rede
e, à beira do amor, morro de sede.
Pai e mãe já não tenho
apenas filhos.
E esse apenas é tudo
que me faz correr nos trilhos.
Para onde vou não sei. Só sei..
Levam-me o impulso, a inércia,
e já é túnel meu destino.
Para arremate só falta
beber este suco de tomate
e ouvir o que diz o violino.
Rê: Eduardo! Muito obrigada por sua gentileza em nos responder a esta entrevista, o Escrev'Arte estará sempre à sua disposição!
E, para finalizar, conheçam um pouco mais sobre a obra, e a biografia de Eduardo Alves Costa:
Quatro décadas após lançar o elogiado romance Chongas, Eduardo Alves da Costa retorna ao gênero em Tango, com violino
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Esses são os versos mais famosos do poema “No caminho, com Maiakóvski”, do brasileiro Eduardo Alves da Costa, cuja autoria costuma ser erroneamente atribuída ao poeta russo. Recentemente, um post no Facebook da Revista Bula tratava de desfazer o equívoco de sua autoria para os jovens leitores do século XXI.
Poeta (figura na antologia Os cem melhores poetas brasileiros do século), dramaturgo, contista e artista plástico com obras expostas na França e na Alemanha, Eduardo Alves da Costa volta à cena literária com a publicação de seu novo romance. Com o título emprestado de outro de seus poemas (publicado na antologia Salamargo), Tango, com violino descreve o dia a dia de Abeliano, um professor de história da arte aposentado que vive em um pequeno hotel localizado em um bairro decadente da cidade de São Paulo e envelheceu “ex abrupto, no momento em que se deu conta de que poderia viajar gratuitamente nos ônibus municipais”.
Abeliano desenvolve então o hábito de pegar ônibus ao acaso, sem saber para onde eles vão, e, ao fazê-lo, vai transformando a banalidade cotidiana em uma aventura que atribui importância a cada contato humano, a cada paisagem urbana –todos de passagem, inconsequentes, ligeiros. Alimentando-se do ver, do ouvir e das próprias elucubrações sobre o passado e o que ocorre ao redor, em todo ônibus que entra Abeliano vive um universo possível, um universo fugaz, que se desfaz a cada fim de viagem para ressurgir na próxima.
A maioria das obras que abordam a velhice enfatiza a doença, a depressão, a decadência, a derrota, mas Eduardo Alves da Costa preferiu o caminho do estoicismo, daqueles que não se entregam, que procuram manter a lucidez, substituindo a depressão pelo distanciamento irônico em relação ao mundo, à sociedade – e sobretudo a si mesmos. O romance não é uma narrativa orgânica, definida, clara, consequente, acabada. É antes um moto-perpétuo, um Bolero de Ravel cujo tema recorrente se acresce aos poucos de novos significados aparentemente insignificantes, de reiterações cujo resultado será, em última instância, a velhice irremediável, a morte, o esquecimento, ou, se assim preferir o leitor, o salto para a transcendência, para a manifestação do ser.
Os fatos se sucedem numa repetição que, aparentemente, não leva a parte alguma, o que reforça a situação dos personagens, suspensos numa outra realidade, na qual se tornam invisíveis, inexistentes, excluídos, uma espécie de limbo, pequeno universo mantido pela inteligência, pelo humor, pelo atrevimento de não só permanecerem vivos, mas agudamente lúcidos.
Dados técnicos:
ISBN: 978-85-64406-92-6
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 352
Preço: R$ 42,00
Acabamento: brochura P&B
Edição: 1ª, 2014
Sobre o autor
Eduardo Alves da Costa nasceu em Niterói e veio para São Paulo com seus pais, aos dois meses de idade. Graduou-se no curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1952. Organizou, em 1960, no Teatro de Arena, em São Paulo, uma das mais instigantes atividades culturais do período, as Noites de Poesia, em que eram divulgadas as obras de jovens poetas. Participou do movimento Os Novíssimos, da Massao Ohno, em 1962.
Autor de inúmeras peças de teatro e contos reunidos em diversas antologias, publicou seu primeiro, e até então único, romance em 1974, Chongas. O livro traz prefácio elogioso de Antônio Houaiss, que afirmou que o romance é dotado “uma escrita diabalmente aliciante."
Eduardo Alves da Costa é também artista plástico. Suas obras já foram expostas na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na Galerie Dina Vierny, em Paris, na Galerie Kühn, em Berlim, e na Plusgalleries, em Antuérpia. Ele vive há sete anos na Vila dos Pescadores de Picinguaba, com Antonieta, sua mulher.
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